Regressar sim, mas a cidades emancipadas!
Diante de um século globalmente distópico e em sociedades altamente complexas e de risco, como aquelas em que vivemos actualmente devido à pandemia (Covid-19), surge a necessidade de olhar para a história como sugere a pintura de Paul Klee (Angelus Novus) para melhor nos confrontarmos com a turbulência do futuro.
O facto, e o fardo, de vivermos num mundo governado por ideias e projectos políticos neoliberais tem-nos colocado quase sempre em posição de condicionamento. 46 anos depois do 25 de abril estamos mais afastados do ideal proclamado nas canções de intervenção. Uma certa tipologia de “darwinismo social” obriga-nos a agir reactivamente através da adequação dos nossos corpos e cérebros aos contextos disciplinares e biopolíticos.
Enclausurados num aquário cibernético, vivemos imersos como peixes em águas elétricas (operativas e simbólicas). Nesta esfera o poder é exercido através de máquinas que organizam directamente as nossas mentes e os nossos corpos (governação algoritmica), com o objectivo de criar um estado de alienação permanente e independente do sentido concreto da vida e da experiência histórica. Contudo, a diferença entre seres humanos e peixes é grande (ainda), os peixes limitam-se a suportar até ao limite a água suja do aquário, os humanos, contudo, podem sempre transformar a qualidade das circunstâncias em que vivem.